domingo, 28 de novembro de 2010

Colombina

Mágica morada
de versos vorazes
por onde vagueia
teu mítico ser

Chama que gera
o encanto da vida
Colombina menina,
tua sina é viver

Teu vulto é divino,
tua forma fascina,
teu corpo é escultura,
não se pode imitar

No samba, é a dama
mais bela e notável
A roda se inflama
ao vê-la gingar

Do poeta é o êxtase,
o vinho, o torpor
Tua alegria, nos versos,
inflama o amor

Reluz como o sol,
adorável menina
É santa e profana
a feliz Colombina

Teu lirismo deslumbra
e me entrego ao encanto
Colombina embriaga
e viscera o meu pranto

E eu, Pierrot,
me rendo ao te olhar,
Chorando na lira
tua arte ao luar

O que sinto ao te ver
não caberia em um canto
Nem mesmo na gira
de todos os versos

O céu, as estrelas,
seriam pequenos
Seriam precisos
mais mil universos


Vinícius (Para nós, colombinas)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cotidiano

Confesso que tenho uma briga diária com as palavras
Estou brigando com elas desde cedo hoje.
Irritante essa mania de tentarem fugir quando eu mais preciso.
Estou tentando negociar para ver se elas me reaparecem, mas tá difícil.
Droga! Eu estava pensando em tantas coisas a caminho daqui e agora nada.
Detesto essa coisa de pensar 24h por dia. Será que todo mundo pensa o tempo todo?!
Fisguei uma questão que estava me atormentando no meu caminhar.
Será que todo mundo fica assim, pensando horas a fio?
Nessas coisas idiotas que eu penso?
As pessoas devem ter questões mais relevantes, certamente.
Acho que eu penso demais.
Gostaria de pensar menos e fazer mais.
Tem gente que tem tanta facilidade de fazer... que inveja!
Por que eu penso tanto?
Será que isso é um mal genético?!
Não, minha mãe não pensa tanto; ou parece que não.
Eu deveria estar fazendo bijuterias, escrevendo o projeto.
E cá estou eu, pensando porque penso tanto.
Que coisa mais inútil!!!
Encalhei. Sabe-se lá porque penso.
Se eu não pensasse, eu não existiria?!
Acho que tem gente que não pensa e existe.
Descartes gostaria de saber disso.
E certamente essas pessoas são muito mais felizes que eu.
Quando eu quero me livrar das palavras elas me assombram
Quando eu preciso delas elas me fogem
E passo o dia todo lutando.
Teve um momento que eu pensava que escrever curava a minha angústia.
Na verdade, Fernando Pessoa falou isso e eu acreditei
Às vezes até acalma
Mas esse processo de capturar pensamentos em palavras está me saindo muito mais difícil que eu pensava.
Por que quando ando penso tanto e agora, de frente pra folha em branco é como se eu estivesse vazia?
E ainda tem gente que diz que escrever é fácil.
As palavras estão a me dar rasteiras.
Isso está me matando!
Mas por que eu preciso escrever?!
É, eu não tenho que escrever.
Será que eu ainda consigo pegar essa barca?
Nossa, cansei de ver tanto verde na rua hoje.
Não quero preservar verde nenhum.
Quero arrancar uma flor bem bonita.
Acho que hoje acordei assertiva demais.
Será que estou sendo meio ditatorial?
Hoje eu não estou a fim de criar nada.
Que maldição essa coisa de ter que criar sempre novos territórios.
Tô na merda e quero ficar nela. Dá pra ser?
Nossa, que tatuagem escrota a dessa mulher. Justiça pra quê e pra quem?
Moço, não gaste suas energias. A gente já perdeu essa barca.
Caraca, como que esses assuntos se interligaram?
Vou traçar uma genealogia dos meus pensamentos.
Marcelle, vamos parar com isso de filosofar tudo o que você vê.
Porra, Foucault, me larga.
Parei.
Vou esperar minhas questões aparecerem na ponta da caneta.
Imagina se eu conseguisse gravar meus pensamentos?
Eu ia ficar louca.
Que bom que isso não é possível.
Pelo menos agora vou encontrar pessoas
Isso deve me fazer parar de pensar por algum tempo
Me enlatar no concreto e aplicar o que planejamos
Putz, as crianças
Hoje elas acabam comigo.
Nada do planejado vai pro concreto
Tem dias que dá raiva pensar em novos possíveis.

Nossa, moça, como a senhora é torta!
Acho que eu também sou torta.
Torta de palavras.

domingo, 21 de novembro de 2010

Vida

Não me cobre algo que eu não possa cumprir
Que eu prometo separar um lugar especial, à minha maneira, para isso que a gente está vivendo.
Não me peça para contar meu passado;
Mas ouça nas entrelinhas tudo o que eu puder te contar com o meu silêncio.
Não exija promessas e sentimentos;
Eu estou vivendo o agora, e por enquanto esse me parece o único jeito que eu consigo suportar a minha existência.
Deixe alguns segredos guardados;
Tem coisas que eu simplesmente não quero compartilhar.
Mas peço que insista em contá-los para que eu possa suportar em algum momento a minha angústia.
Eu suporto às vezes.
Deixemos um espaço reservado no presente pro passado que ecoa;
A vida não é vida sem as frustrações e os medos; e eu ando com muito medo ultimamente.
Eu não prezo por verdades;
Prezo pela intensidade do que vivo, seja isso verdade ou ilusão.
Não queira prever para além do que você pode.
Eu não sou sua, e você não é meu, ainda que nesse momento a gente compartilhe coisas nossas.
Faça-me acreditar que eu posso controlar o que eu desejar;
Eu ando muito instável para achar que as coisas são imprevisíveis.
Deixe-me viver a instabilidade, a falta de certezas da maneira que eu conseguir, mesmo que para isso eu precise falar palavras feias ou bater a porta e ir embora pra não voltar nunca mais.
Contudo, permita-me ainda compartilhar momentos bons: risos e choros sinceros.
Tenho me esforçado muito para não me magoar mais.
Mas tenho me esforçado mais ainda para continuar vivendo.