terça-feira, 19 de outubro de 2010

Com relacionamentos anteriores aprendi...

Que não sei segurar o guarda-chuva quando venta; que gosto de ganhar chocolates de presente e cartõezinhos ou qualquer besteirinha pra acompanhar; que eu sou muito desajeitada e tropeço milhões de vezes na rua porque ando com o pé arrastando; que quando estou de tpm vou sempre chorar e achar que ninguém me quer e, Vixe! Nem adianta discutir!; que passar protetor solar na tatuagem é um cuidado necessário; que inteligência me atrai muito; que fatalmente vou passar a roleta, pagar a minha passagem e ir pro último banco do ônibus, mesmo que meu namorado esteja sem dinheiro; que às vezes eu sou desatenta em excesso, e não perceber quando alguém corta o cabelo pode magoar...

Que quando não tiver o porquê discutir, acharei algum motivo irrisório, idiota o bastante para suscitar uma discussão filosófica ou existencial: “por que ser saudável?”; “choque de ordem é um fascismo!” e eu vou brigar sempre, porque eu gosto de brigar, oras! Que é muito bom não fazer nada quando se está bem acompanhado; que a gente tem que abrir mão de estar certo muitas vezes, mesmo quando as nossas verdades nos fazem pensar de outra maneira. Que mpb, música eletrônica e heavy metal podem ser ritmos agradáveis, basta saber ouvi-los; que eu sempre serei um desastre em escalada; que não saber dançar é apenas um ínfimo detalhe, e que pode ser até bonitinho quando se tem outras milhões de qualidades.

Que alguns paradigmas nossos estão tão cristalizados que não resistem a um peteleco, e que não necessariamente precisamos estar prontos para o momento da desordem, se conseguimos aceita-la e conviver com ela cotidianamente; que o maior dos crápulas da sua vida amorosa pode virar um de seus melhores amigos alguns anos depois; que uma mensagem pode transformar completamente a vida de alguém. Que certas situações são tão traumáticas que você pode passar a noite inteira em claro verificando se o outro está respirando mesmo. Que a “agradabilidade” de uma pessoa é diretamente proporcional à quantidade de risos que vocês cultivam juntos; e que às vezes eu sou impaciente e grosseira.

Que dá até pra achar engraçadas as manias do outro e pra conviver e caçoar delas de vez em quando; que dá pra se brigar porque um quer atravessar na faixa de pedestres e o outro no meio da rua e isso virar uma DR; que quando eu estou angustiada com alguma coisa eu preciso falar e falar e falar, pois só assim consigo entender o que estou sentindo, me organizar e dar um outro destino para o meu desespero; e que se o outro insistir em uma resposta imediata eu vou dar qualquer resposta (geralmente uma mal criada) só porque não gosto de não saber. Que se pode voltar a usar óculos (e a gostar deles) porque a pessoa que te ama diz que você fica mais bonita assim; que ver o filme “Godfather” (Don Corleone) trezentas vezes e estar exausta de decorar as falas pode ser uma forma de valorizar o que o outro tem a trazer da cultura familiar dele...

Que os costumes de seus antecessores podem estar adormecidos, esperando apenas a sua iniciativa para voltar à tona com tantas histórias a serem recontadas; que algumas pessoas te fazem se reaproximar de membros da sua família que você nunca imaginava amar tanto; que é muito lindo adotar a família do outro, ter uma pessoa pra chamar de vovó, outra pra jogar vídeo game ou pra arrumar como uma mocinha; outra pra te convidar para um almoço engraçado; e é muito gostoso ter uma criança correndo pela casa gritando: “Tia Marcelle, tava moorrrrendo de saudades!!!” e responder: “Eu também, meu amor.”

Que não se tem como quantificar a dor da perda, as lágrimas corridas, os segredos que deixaram de ser contados ou a vontade de recomeço, após o término de uma relação; ela dói tanto para quem terminou como para o outro (e talvez sinta mais a perda quem tomou a iniciativa de terminar); que parar o carro em frente à casa da pessoa e chorar olhando pra varanda não traz, e talvez nem seja mesmo pra trazer, a pessoa de volta. Que liberdade é um conceito muito relativo e que ela pode sim estar estreitamente ligada a querer a companhia de alguém até ficar velhinho, ter filhos, netos e a desejar fazer tai chi junto na pracinha, etc.

Que a gente aprende a abrir mão de nossos desejos, por compreender que a realização do desejo do outro no momento é mais importante; e que ser orgulhoso não te faz mais forte ou mais certo, às vezes temos que simplesmente engolir o orgulho e pedir perdão; que é preciso aprender a suportar pequenos e grandes defeitos; todas as pessoas têm defeitos, não importa o quão perfeita ela te pareça agora; que o medo de se envolver se trata muito mais de um sentimento presente que de algo que ainda esteja por vir, e tem pessoas com as quais se precisa dar tempo ao tempo, cultivar a paciência e viver cada dia um novo dia, sem se desesperar ou antecipar o que pode vir pela frente.

Que a expectativa é uma das coisas que mais frustra: ninguém nunca vai te amar como você gostaria de ser amado e você mesmo nunca vai se expressar para o outro da forma que você pensa que se expressa...; que tem momentos em que você vai querer matar o outro por ele ser e pensar tão diferente de você e outros que você vai odiá-lo por ele lhe ser tão semelhante. Que um namorado vem com um pacote, de vivências, histórias e que não dá para querer se livrar do passado, ele sempre estará ali. Que mentiras são tentativas de se fugir da dura realidade. Que pessoas de libra são muito agradáveis de se conviver; que relacionar-se com alguém faz de você uma pessoa mais tolerante.

Que é muito duro cruzar com uma pessoa com quem se viveu três anos e ela fingir que não te viu; que não é o fato do outro deixar claro que você não é a pessoa mais importante da vida dele que o faz te amar menos; que eu geralmente preciso de um tempo sozinha, totalmente sozinha, ‘eu e minha fogueira’; que cada pessoa é única e deixa marcas irreversíveis em nossa história, mesmo que ela fique só por uma noite. E que bom que são irreversíveis...

E eu continuo a sofrer, a chorar e a lamentar muito...
Mas olho para tudo isso e me vem uma alegria do tamanho do mundo de saber que pessoas tão especiais fizeram e ainda fazem parte de minha trajetória, parte de mim; e que estarão comigo para sempre mesmo que não queiram ou que desejem que eu as ame menos.

sábado, 9 de outubro de 2010

Autobiografia

Não gostaria de ser assim
Você acha que eu gosto de superficialidade?
Talvez isso seja uma couraça que a vida faz da gente.
E que aprisiona no modelo de felicidade e de pessoa bem resolvida.
Você acha que eu gosto de precisar tanto de reconhecimento?
Você acha que eu não tento me livrar disso todos os dias?
Do excesso de risos e das piadas que denunciam o meu pedido desesperado.
Quando na verdade choro debaixo dos cobertores sozinha.
E estou à flor da pele, tentando esconder até o último pedaço de pele nas minhas expectativas.
Desabar talvez não faça parte desse mundinho que criei pra mim.
Ainda que eu desabe todos os dias.
De que adianta ser bonita, inteligente, interessante,
Se tudo isso está aí para o outro?
Será que a beleza não traz sofrimento?
Será que uma pessoa não pode ter uma história difícil que a faça escolher pela superficialidade? Pela quantidade de amigos que tem? Pelos amores que conquista? Por ser a melhor profissional da área que escolheu?
Ainda estou ensaiando, aos poucos...
Como é ficar sozinha, como é ter poucos amigos, como é escolher por alguém que, de fato, se ame, por não agarrar o mundo com os pés e as mãos. Que o mundo é grande demais e que é impossível alcançá-lo, que é possível sim desabar e mostrar minhas fraquezas. Escolher mais por desafios que por certezas, suportar a imprevisibilidade da vida.
Meu corpo ainda não suporta lidar comigo mesma, não agora.
Espero que daqui a algum tempo eu possa experimentar ser mais sincera com os meus atos. Por enquanto ainda estou ensaiando ou, pelo menos prefiro acreditar que se trata apenas de um ensaio.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A DANÇA - Um belo poema de inspiração

"Eu lhe mandei meu convite,
A nota inscrita na palma da minha mão pela Chama da vida.
Não de um salto gritando:

" Sim , é isso que eu quero! Vamos em frente!"
Apenas se levante em silencio e dance comigo.


Mostre-me como você segue seus desejos mais profundos,
Descendo em espiral em direção à dor dentro da dor,
E lhe mostrarei como eu me volto para dentro e me abro para fora
Para sentir o beijo do mistério, doces lábios
Sobre os meus, todos os dias.


Não me diga que você quer encerrar o mundo inteiro no seu coração.
Mostre-me como você evita cometer outra falta sem
Se desesperar quando sofre uma agressão e tem medo
De não receber amor.


Conte-me uma história sobre quem você é,
E veja quem eu sou nas histórias que estou vivendo.
E juntos nos lembraremos que cada um de nos sempre
Tem uma escolha.


Não me diga que as coisas serão maravilhosas...um dia.
Mostre-me que você e capaz de correr o risco de ficar
Completamente em paz,
Totalmente a vontade com a maneira como as coisas são
Neste exato momento,
E também no momento seguinte, e no seguinte...

Já ouvi histórias demais sobre a
audácia heróica.
Conte-me como você desmorona

quando
Esbarra no muro,
O lugar que você não pode transpor

pela força da sua vontade.
O que conduz você para outro lado

desse muro,
Para a frágil beleza da sua condição

humana?

E depois de mostrarmos um ao outro
como definimos e
Mantivemos os limites claros e

saudáveis que nos
Ajudam a viver lado a lado um com

o outro,
Vamos correr o risco de lembrar que

nunca deixamos de
Amar em silêncio aqueles que um dia

amamos
Em voz alta.


Leve-me para os lugares do planeta
que ensinam
Você a dançar,
Os lugares onde você pode correr o

risco de
Deixar o mundo partir seu coração,
E eu conduzirei você aos lugares onde

a terra debaixo
Dos meus pés
E as estrelas no céu fazem meu coração

ficar inteiro
De novo, e de novo.


Mostre-me como você cuida dos
negócios
Sem deixar que eles determinem

quem você é.
Quando as crianças estão alimentadas

mas as vozes
Internas e as externas
Gritam que os desejos da alma tem

um preço alto demais,
Vamos lembrar um ao outro que

o que importa
Não é o dinheiro.


Mostre-me como você oferece ao
seu povo e ao mundo
As histórias e as canções que você

quer que os filhos de
Nossos filhos recordem,
E eu revelarei a você como eu

me empenho,
Não para mudar o mundo,

mas para amá-lo.

Sente-se do meu lado e compartilhe
comigo longos
Momentos de solidão,
Conhecendo tanto a nossa absoluta

solitude quanto o
Nosso inegável pertencer.

Dance comigo no silêncio e
no som das pequenas
Palavras cotidianas,
Sem que eu me responsabilize
no fim do dia por
Nenhum de nos dois.

E quando o som de todas
as declarações das
Nossas mais sinceras
Intenções tiver desaparecido

no vento,
Dance comigo na pausa infinita

antes da grande
Inalação seguinte do alento

que nos sopra a
Todos na existência,
Sem encher o vazio a partir

de dentro ou de fora.

Não diga "Sim!".
Pegue apenas a minha mão e dance comigo.


(Oriah Mountain Dreamer)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vídeo: Lembranças (Sarah McLachlan - Angel)

O vídeo colocado na postagem "Lembranças" foi retirado do ar. Estou colocando novamente.

Aqui Doido Varrido Não Vai Pra Baixo do Tapete



"Onde está a loucura? Na gente ou nessa sociedade maluca que nos deixa à beira do precipício?"

Eis no excesso da loucura a sua peculiaridade.
Eis que hoje pensei sobre que mundo estamos construindo.
E que mundo desejo para os meus pacientes, para minha família, meus amigos, para a minha própria loucura... 
Eis que emerge uma aliança psicologia e arte ou talvez não uma aliança, mas uma concomitância.
Eis que as bijuterias, o kung fu, o desenho, as atividades manuais, a escrita, o árabe, a dança, a psicologia, a acrobacia aérea e a vontade de ser cabelereira se confundem em minha história.
Fazer do riso prática de vida.
Rir mais, pensar (racionalmente) menos.
A arte nos coloca em tensão; ou não.
Suportar a imprevisibilidade da vida.
Ética, moral; Promoção de saúde, prevenção de doença; Diálogo, comunicação;
O mundo anda estratificado, talvez mais que eu gostaria.
E eu me perco nesse mundo
Talvez me falte foco
Talvez seja o excesso
O mesmo excesso da loucura
Que me faz escrever e desejar tanta coisa junta
E não saber, também, na lista de desejos, por onde começar
Esse trabalho trouxe vida ao meu dia.
Victor, não tenho como agradecer pelo dia maravilhoso.
Espero mais parcerias assim, que cortem com "uma lâmina afiada minhas cômodas suposições".
Desejo mais trocas, mais tensões, mais vida para minha vida!
Esses momentos que nos fazem subverter nossa realidade tão endurecida.
De fato, o mundo anda muito louco.
Mas ter alguns outros loucos para partilhar a nossa loucura nos dá ar para respirar.

Rená, meu querido amigo, seu vídeo é maravilhoso, uma verdadeira obra-prima.
Sinto-me muito honrada pelo convite.
Sinto-me muito honrada de podermos partilhar nossas loucuras;
enquanto psicólogos, cineastas, produtores culturais, loucos e mais quem quiser se juntar!



"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."
(Manoel de Barros)