domingo, 28 de novembro de 2010

Colombina

Mágica morada
de versos vorazes
por onde vagueia
teu mítico ser

Chama que gera
o encanto da vida
Colombina menina,
tua sina é viver

Teu vulto é divino,
tua forma fascina,
teu corpo é escultura,
não se pode imitar

No samba, é a dama
mais bela e notável
A roda se inflama
ao vê-la gingar

Do poeta é o êxtase,
o vinho, o torpor
Tua alegria, nos versos,
inflama o amor

Reluz como o sol,
adorável menina
É santa e profana
a feliz Colombina

Teu lirismo deslumbra
e me entrego ao encanto
Colombina embriaga
e viscera o meu pranto

E eu, Pierrot,
me rendo ao te olhar,
Chorando na lira
tua arte ao luar

O que sinto ao te ver
não caberia em um canto
Nem mesmo na gira
de todos os versos

O céu, as estrelas,
seriam pequenos
Seriam precisos
mais mil universos


Vinícius (Para nós, colombinas)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cotidiano

Confesso que tenho uma briga diária com as palavras
Estou brigando com elas desde cedo hoje.
Irritante essa mania de tentarem fugir quando eu mais preciso.
Estou tentando negociar para ver se elas me reaparecem, mas tá difícil.
Droga! Eu estava pensando em tantas coisas a caminho daqui e agora nada.
Detesto essa coisa de pensar 24h por dia. Será que todo mundo pensa o tempo todo?!
Fisguei uma questão que estava me atormentando no meu caminhar.
Será que todo mundo fica assim, pensando horas a fio?
Nessas coisas idiotas que eu penso?
As pessoas devem ter questões mais relevantes, certamente.
Acho que eu penso demais.
Gostaria de pensar menos e fazer mais.
Tem gente que tem tanta facilidade de fazer... que inveja!
Por que eu penso tanto?
Será que isso é um mal genético?!
Não, minha mãe não pensa tanto; ou parece que não.
Eu deveria estar fazendo bijuterias, escrevendo o projeto.
E cá estou eu, pensando porque penso tanto.
Que coisa mais inútil!!!
Encalhei. Sabe-se lá porque penso.
Se eu não pensasse, eu não existiria?!
Acho que tem gente que não pensa e existe.
Descartes gostaria de saber disso.
E certamente essas pessoas são muito mais felizes que eu.
Quando eu quero me livrar das palavras elas me assombram
Quando eu preciso delas elas me fogem
E passo o dia todo lutando.
Teve um momento que eu pensava que escrever curava a minha angústia.
Na verdade, Fernando Pessoa falou isso e eu acreditei
Às vezes até acalma
Mas esse processo de capturar pensamentos em palavras está me saindo muito mais difícil que eu pensava.
Por que quando ando penso tanto e agora, de frente pra folha em branco é como se eu estivesse vazia?
E ainda tem gente que diz que escrever é fácil.
As palavras estão a me dar rasteiras.
Isso está me matando!
Mas por que eu preciso escrever?!
É, eu não tenho que escrever.
Será que eu ainda consigo pegar essa barca?
Nossa, cansei de ver tanto verde na rua hoje.
Não quero preservar verde nenhum.
Quero arrancar uma flor bem bonita.
Acho que hoje acordei assertiva demais.
Será que estou sendo meio ditatorial?
Hoje eu não estou a fim de criar nada.
Que maldição essa coisa de ter que criar sempre novos territórios.
Tô na merda e quero ficar nela. Dá pra ser?
Nossa, que tatuagem escrota a dessa mulher. Justiça pra quê e pra quem?
Moço, não gaste suas energias. A gente já perdeu essa barca.
Caraca, como que esses assuntos se interligaram?
Vou traçar uma genealogia dos meus pensamentos.
Marcelle, vamos parar com isso de filosofar tudo o que você vê.
Porra, Foucault, me larga.
Parei.
Vou esperar minhas questões aparecerem na ponta da caneta.
Imagina se eu conseguisse gravar meus pensamentos?
Eu ia ficar louca.
Que bom que isso não é possível.
Pelo menos agora vou encontrar pessoas
Isso deve me fazer parar de pensar por algum tempo
Me enlatar no concreto e aplicar o que planejamos
Putz, as crianças
Hoje elas acabam comigo.
Nada do planejado vai pro concreto
Tem dias que dá raiva pensar em novos possíveis.

Nossa, moça, como a senhora é torta!
Acho que eu também sou torta.
Torta de palavras.

domingo, 21 de novembro de 2010

Vida

Não me cobre algo que eu não possa cumprir
Que eu prometo separar um lugar especial, à minha maneira, para isso que a gente está vivendo.
Não me peça para contar meu passado;
Mas ouça nas entrelinhas tudo o que eu puder te contar com o meu silêncio.
Não exija promessas e sentimentos;
Eu estou vivendo o agora, e por enquanto esse me parece o único jeito que eu consigo suportar a minha existência.
Deixe alguns segredos guardados;
Tem coisas que eu simplesmente não quero compartilhar.
Mas peço que insista em contá-los para que eu possa suportar em algum momento a minha angústia.
Eu suporto às vezes.
Deixemos um espaço reservado no presente pro passado que ecoa;
A vida não é vida sem as frustrações e os medos; e eu ando com muito medo ultimamente.
Eu não prezo por verdades;
Prezo pela intensidade do que vivo, seja isso verdade ou ilusão.
Não queira prever para além do que você pode.
Eu não sou sua, e você não é meu, ainda que nesse momento a gente compartilhe coisas nossas.
Faça-me acreditar que eu posso controlar o que eu desejar;
Eu ando muito instável para achar que as coisas são imprevisíveis.
Deixe-me viver a instabilidade, a falta de certezas da maneira que eu conseguir, mesmo que para isso eu precise falar palavras feias ou bater a porta e ir embora pra não voltar nunca mais.
Contudo, permita-me ainda compartilhar momentos bons: risos e choros sinceros.
Tenho me esforçado muito para não me magoar mais.
Mas tenho me esforçado mais ainda para continuar vivendo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Com relacionamentos anteriores aprendi...

Que não sei segurar o guarda-chuva quando venta; que gosto de ganhar chocolates de presente e cartõezinhos ou qualquer besteirinha pra acompanhar; que eu sou muito desajeitada e tropeço milhões de vezes na rua porque ando com o pé arrastando; que quando estou de tpm vou sempre chorar e achar que ninguém me quer e, Vixe! Nem adianta discutir!; que passar protetor solar na tatuagem é um cuidado necessário; que inteligência me atrai muito; que fatalmente vou passar a roleta, pagar a minha passagem e ir pro último banco do ônibus, mesmo que meu namorado esteja sem dinheiro; que às vezes eu sou desatenta em excesso, e não perceber quando alguém corta o cabelo pode magoar...

Que quando não tiver o porquê discutir, acharei algum motivo irrisório, idiota o bastante para suscitar uma discussão filosófica ou existencial: “por que ser saudável?”; “choque de ordem é um fascismo!” e eu vou brigar sempre, porque eu gosto de brigar, oras! Que é muito bom não fazer nada quando se está bem acompanhado; que a gente tem que abrir mão de estar certo muitas vezes, mesmo quando as nossas verdades nos fazem pensar de outra maneira. Que mpb, música eletrônica e heavy metal podem ser ritmos agradáveis, basta saber ouvi-los; que eu sempre serei um desastre em escalada; que não saber dançar é apenas um ínfimo detalhe, e que pode ser até bonitinho quando se tem outras milhões de qualidades.

Que alguns paradigmas nossos estão tão cristalizados que não resistem a um peteleco, e que não necessariamente precisamos estar prontos para o momento da desordem, se conseguimos aceita-la e conviver com ela cotidianamente; que o maior dos crápulas da sua vida amorosa pode virar um de seus melhores amigos alguns anos depois; que uma mensagem pode transformar completamente a vida de alguém. Que certas situações são tão traumáticas que você pode passar a noite inteira em claro verificando se o outro está respirando mesmo. Que a “agradabilidade” de uma pessoa é diretamente proporcional à quantidade de risos que vocês cultivam juntos; e que às vezes eu sou impaciente e grosseira.

Que dá até pra achar engraçadas as manias do outro e pra conviver e caçoar delas de vez em quando; que dá pra se brigar porque um quer atravessar na faixa de pedestres e o outro no meio da rua e isso virar uma DR; que quando eu estou angustiada com alguma coisa eu preciso falar e falar e falar, pois só assim consigo entender o que estou sentindo, me organizar e dar um outro destino para o meu desespero; e que se o outro insistir em uma resposta imediata eu vou dar qualquer resposta (geralmente uma mal criada) só porque não gosto de não saber. Que se pode voltar a usar óculos (e a gostar deles) porque a pessoa que te ama diz que você fica mais bonita assim; que ver o filme “Godfather” (Don Corleone) trezentas vezes e estar exausta de decorar as falas pode ser uma forma de valorizar o que o outro tem a trazer da cultura familiar dele...

Que os costumes de seus antecessores podem estar adormecidos, esperando apenas a sua iniciativa para voltar à tona com tantas histórias a serem recontadas; que algumas pessoas te fazem se reaproximar de membros da sua família que você nunca imaginava amar tanto; que é muito lindo adotar a família do outro, ter uma pessoa pra chamar de vovó, outra pra jogar vídeo game ou pra arrumar como uma mocinha; outra pra te convidar para um almoço engraçado; e é muito gostoso ter uma criança correndo pela casa gritando: “Tia Marcelle, tava moorrrrendo de saudades!!!” e responder: “Eu também, meu amor.”

Que não se tem como quantificar a dor da perda, as lágrimas corridas, os segredos que deixaram de ser contados ou a vontade de recomeço, após o término de uma relação; ela dói tanto para quem terminou como para o outro (e talvez sinta mais a perda quem tomou a iniciativa de terminar); que parar o carro em frente à casa da pessoa e chorar olhando pra varanda não traz, e talvez nem seja mesmo pra trazer, a pessoa de volta. Que liberdade é um conceito muito relativo e que ela pode sim estar estreitamente ligada a querer a companhia de alguém até ficar velhinho, ter filhos, netos e a desejar fazer tai chi junto na pracinha, etc.

Que a gente aprende a abrir mão de nossos desejos, por compreender que a realização do desejo do outro no momento é mais importante; e que ser orgulhoso não te faz mais forte ou mais certo, às vezes temos que simplesmente engolir o orgulho e pedir perdão; que é preciso aprender a suportar pequenos e grandes defeitos; todas as pessoas têm defeitos, não importa o quão perfeita ela te pareça agora; que o medo de se envolver se trata muito mais de um sentimento presente que de algo que ainda esteja por vir, e tem pessoas com as quais se precisa dar tempo ao tempo, cultivar a paciência e viver cada dia um novo dia, sem se desesperar ou antecipar o que pode vir pela frente.

Que a expectativa é uma das coisas que mais frustra: ninguém nunca vai te amar como você gostaria de ser amado e você mesmo nunca vai se expressar para o outro da forma que você pensa que se expressa...; que tem momentos em que você vai querer matar o outro por ele ser e pensar tão diferente de você e outros que você vai odiá-lo por ele lhe ser tão semelhante. Que um namorado vem com um pacote, de vivências, histórias e que não dá para querer se livrar do passado, ele sempre estará ali. Que mentiras são tentativas de se fugir da dura realidade. Que pessoas de libra são muito agradáveis de se conviver; que relacionar-se com alguém faz de você uma pessoa mais tolerante.

Que é muito duro cruzar com uma pessoa com quem se viveu três anos e ela fingir que não te viu; que não é o fato do outro deixar claro que você não é a pessoa mais importante da vida dele que o faz te amar menos; que eu geralmente preciso de um tempo sozinha, totalmente sozinha, ‘eu e minha fogueira’; que cada pessoa é única e deixa marcas irreversíveis em nossa história, mesmo que ela fique só por uma noite. E que bom que são irreversíveis...

E eu continuo a sofrer, a chorar e a lamentar muito...
Mas olho para tudo isso e me vem uma alegria do tamanho do mundo de saber que pessoas tão especiais fizeram e ainda fazem parte de minha trajetória, parte de mim; e que estarão comigo para sempre mesmo que não queiram ou que desejem que eu as ame menos.

sábado, 9 de outubro de 2010

Autobiografia

Não gostaria de ser assim
Você acha que eu gosto de superficialidade?
Talvez isso seja uma couraça que a vida faz da gente.
E que aprisiona no modelo de felicidade e de pessoa bem resolvida.
Você acha que eu gosto de precisar tanto de reconhecimento?
Você acha que eu não tento me livrar disso todos os dias?
Do excesso de risos e das piadas que denunciam o meu pedido desesperado.
Quando na verdade choro debaixo dos cobertores sozinha.
E estou à flor da pele, tentando esconder até o último pedaço de pele nas minhas expectativas.
Desabar talvez não faça parte desse mundinho que criei pra mim.
Ainda que eu desabe todos os dias.
De que adianta ser bonita, inteligente, interessante,
Se tudo isso está aí para o outro?
Será que a beleza não traz sofrimento?
Será que uma pessoa não pode ter uma história difícil que a faça escolher pela superficialidade? Pela quantidade de amigos que tem? Pelos amores que conquista? Por ser a melhor profissional da área que escolheu?
Ainda estou ensaiando, aos poucos...
Como é ficar sozinha, como é ter poucos amigos, como é escolher por alguém que, de fato, se ame, por não agarrar o mundo com os pés e as mãos. Que o mundo é grande demais e que é impossível alcançá-lo, que é possível sim desabar e mostrar minhas fraquezas. Escolher mais por desafios que por certezas, suportar a imprevisibilidade da vida.
Meu corpo ainda não suporta lidar comigo mesma, não agora.
Espero que daqui a algum tempo eu possa experimentar ser mais sincera com os meus atos. Por enquanto ainda estou ensaiando ou, pelo menos prefiro acreditar que se trata apenas de um ensaio.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A DANÇA - Um belo poema de inspiração

"Eu lhe mandei meu convite,
A nota inscrita na palma da minha mão pela Chama da vida.
Não de um salto gritando:

" Sim , é isso que eu quero! Vamos em frente!"
Apenas se levante em silencio e dance comigo.


Mostre-me como você segue seus desejos mais profundos,
Descendo em espiral em direção à dor dentro da dor,
E lhe mostrarei como eu me volto para dentro e me abro para fora
Para sentir o beijo do mistério, doces lábios
Sobre os meus, todos os dias.


Não me diga que você quer encerrar o mundo inteiro no seu coração.
Mostre-me como você evita cometer outra falta sem
Se desesperar quando sofre uma agressão e tem medo
De não receber amor.


Conte-me uma história sobre quem você é,
E veja quem eu sou nas histórias que estou vivendo.
E juntos nos lembraremos que cada um de nos sempre
Tem uma escolha.


Não me diga que as coisas serão maravilhosas...um dia.
Mostre-me que você e capaz de correr o risco de ficar
Completamente em paz,
Totalmente a vontade com a maneira como as coisas são
Neste exato momento,
E também no momento seguinte, e no seguinte...

Já ouvi histórias demais sobre a
audácia heróica.
Conte-me como você desmorona

quando
Esbarra no muro,
O lugar que você não pode transpor

pela força da sua vontade.
O que conduz você para outro lado

desse muro,
Para a frágil beleza da sua condição

humana?

E depois de mostrarmos um ao outro
como definimos e
Mantivemos os limites claros e

saudáveis que nos
Ajudam a viver lado a lado um com

o outro,
Vamos correr o risco de lembrar que

nunca deixamos de
Amar em silêncio aqueles que um dia

amamos
Em voz alta.


Leve-me para os lugares do planeta
que ensinam
Você a dançar,
Os lugares onde você pode correr o

risco de
Deixar o mundo partir seu coração,
E eu conduzirei você aos lugares onde

a terra debaixo
Dos meus pés
E as estrelas no céu fazem meu coração

ficar inteiro
De novo, e de novo.


Mostre-me como você cuida dos
negócios
Sem deixar que eles determinem

quem você é.
Quando as crianças estão alimentadas

mas as vozes
Internas e as externas
Gritam que os desejos da alma tem

um preço alto demais,
Vamos lembrar um ao outro que

o que importa
Não é o dinheiro.


Mostre-me como você oferece ao
seu povo e ao mundo
As histórias e as canções que você

quer que os filhos de
Nossos filhos recordem,
E eu revelarei a você como eu

me empenho,
Não para mudar o mundo,

mas para amá-lo.

Sente-se do meu lado e compartilhe
comigo longos
Momentos de solidão,
Conhecendo tanto a nossa absoluta

solitude quanto o
Nosso inegável pertencer.

Dance comigo no silêncio e
no som das pequenas
Palavras cotidianas,
Sem que eu me responsabilize
no fim do dia por
Nenhum de nos dois.

E quando o som de todas
as declarações das
Nossas mais sinceras
Intenções tiver desaparecido

no vento,
Dance comigo na pausa infinita

antes da grande
Inalação seguinte do alento

que nos sopra a
Todos na existência,
Sem encher o vazio a partir

de dentro ou de fora.

Não diga "Sim!".
Pegue apenas a minha mão e dance comigo.


(Oriah Mountain Dreamer)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Vídeo: Lembranças (Sarah McLachlan - Angel)

O vídeo colocado na postagem "Lembranças" foi retirado do ar. Estou colocando novamente.

Aqui Doido Varrido Não Vai Pra Baixo do Tapete



"Onde está a loucura? Na gente ou nessa sociedade maluca que nos deixa à beira do precipício?"

Eis no excesso da loucura a sua peculiaridade.
Eis que hoje pensei sobre que mundo estamos construindo.
E que mundo desejo para os meus pacientes, para minha família, meus amigos, para a minha própria loucura... 
Eis que emerge uma aliança psicologia e arte ou talvez não uma aliança, mas uma concomitância.
Eis que as bijuterias, o kung fu, o desenho, as atividades manuais, a escrita, o árabe, a dança, a psicologia, a acrobacia aérea e a vontade de ser cabelereira se confundem em minha história.
Fazer do riso prática de vida.
Rir mais, pensar (racionalmente) menos.
A arte nos coloca em tensão; ou não.
Suportar a imprevisibilidade da vida.
Ética, moral; Promoção de saúde, prevenção de doença; Diálogo, comunicação;
O mundo anda estratificado, talvez mais que eu gostaria.
E eu me perco nesse mundo
Talvez me falte foco
Talvez seja o excesso
O mesmo excesso da loucura
Que me faz escrever e desejar tanta coisa junta
E não saber, também, na lista de desejos, por onde começar
Esse trabalho trouxe vida ao meu dia.
Victor, não tenho como agradecer pelo dia maravilhoso.
Espero mais parcerias assim, que cortem com "uma lâmina afiada minhas cômodas suposições".
Desejo mais trocas, mais tensões, mais vida para minha vida!
Esses momentos que nos fazem subverter nossa realidade tão endurecida.
De fato, o mundo anda muito louco.
Mas ter alguns outros loucos para partilhar a nossa loucura nos dá ar para respirar.

Rená, meu querido amigo, seu vídeo é maravilhoso, uma verdadeira obra-prima.
Sinto-me muito honrada pelo convite.
Sinto-me muito honrada de podermos partilhar nossas loucuras;
enquanto psicólogos, cineastas, produtores culturais, loucos e mais quem quiser se juntar!



"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."
(Manoel de Barros)

sábado, 11 de setembro de 2010

Lembranças

Vídeo de Sarah McLachlan - In the Arms of the Angel


Eu não tenho mais aquele cantinho do lado da poltrona pra me acomodar
Nem preciso ficar atenta com o sal na comida, ou com o horário dos remédios
Nem com o filme que eu gosto e que vou ter que abrir mão,
Porque você quer ver o filme do Charles Bronson.
Nem vou precisar me irritar porque você pede que eu te sirva o suco de laranja.
Nem as suas reclamações, nem os caprichos e os murmúrios
Também as brincadeiras; e é isso.


É... a vida deveria seguir. Entendimento e aceitação.
Mas todos os dias ainda fico aguardando de um lapso em que a dor seja menor
São insuportáveis as recordações por toda a casa
Uma foto num quadro, os móveis, os carros, os tecidos, as galinhas,
Até velhas manias foram incorporadas por nós
A casa é sua. Quando você volta para cuidar dela?

Outro dia me peguei remexendo suas roupas
Pra ver se restava algum resquício de cheirinho
Abracei-me com pedaços de pano e chorei
Mas meus abraços agora são vazios


E eu não suporto mais chorar
Será que algum dia terei uma segunda chance?
Sentar, conversar e ouvir metade das palavras em árabe,
metade em português?
As histórias que ficaram por serem contadas...
As perguntas que deixei de fazer.
Que arrependimento!

Uma música me lembra, um filme me lembra.
Será mesmo que você pode me ver? Ou me ouvir?
Ou ficar orgulhoso por eu estar tentando cuidar da mamãe?
Eu tento ser forte. Afinal, aqui, a regra sempre foi essa.
E agora eu tenho que me suportar sozinha
E é sozinha também que eu choro
Pra ninguém ver ou ouvir a fraqueza do meu corpo
E a melancolia de meu choro
Será que algum dia me sentirei livre?

As lembranças estão começando a rarear
E isso me preocupa
As palavras por enquanto são o meu melhor suporte.
É o melhor modo que achei até agora de prender as lembranças na matéria.
E eu desejo lembrar de você até ficar velhinha
Nem que seja só por meio dessas palavras.

Eu me sinto vazia; talvez esteja mesmo vazia pra sempre.
E partilhar a angústia não tem me ajudado.


Da música:

“Memórias se infiltram pelas minhas veias
Elas talvez sejam vazias e leves, e talvez
Eu encontre alguma paz esta noite”

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Da sutileza de ser flor

Inspiras o sol de cada dia;
À noite fazes as pazes
com recôndito ritual em velas;
Das vermelhas às brancas,
Das amarelas às violetas,
passando pelas rosas...


Por vezes entre pares;
Em outras confundidas
num misto de cheiros e cores;
Lá estão elas!
Entre as vozes de feirantes e entusiastas:
“Levas uma, para tua amada!”


És rodeada de perdão e ira;
Entraves de um destino não traçado;
Turvo; escurecido...

Por ela alguns dão a vida;
Também por ela
outros tantos desejam a morte;
Seria estranhíssima criatura;
Não fosse a sutileza de ser flor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Todo carnaval tem seu fim...

Carnaval 2010
Acho que eu gosto desse jeito meio torto de ser, de vestir máscaras e despi-las no minuto seguinte, dessa excentricidade de pôr em existência representações, proposições inéditas, de inaugurar a cada dia uma nova forma de ser e estar no mundo e de destruir vorazmente o que foi construído e que não me serve mais. De viver de um jeito sujo, malogrado, perene de vida, de erros, sem pretensão alguma de moral ou estética. Eu quero uma vida das entrelinhas, uma vida sem paz, em constante luta e com todo o embate e o repúdio que o viver exige.

domingo, 5 de setembro de 2010

Era uma vez uma menina que queria liberdade...

Ela escolheu para si o desejo de liberdade não por falta de opção, mas porque a desejava muito naquele momento. Alguns murmurariam que a sua educação foi muito repressora; outros diriam que seus encontros a levaram a querer voar com as próprias asas. Mas isso talvez seja o que menos venha ao caso...

Suas pretensas escolhas eram em favor da liberdade que julgava ter criado para si própria. Seu mundinho, sua redoma. Vã ilusão. Tentava manter a todo custo os vínculos já estabelecidos; procurava insaciavelmente estereótipos que a identificassem, pois ali estava a sua segurança; era a partir desses referenciais que ela tinha a certeza do que era e do que queria.

Engraçado como o destino prega peças. E a menina, outrora tão convicta de sua realidade, na experiência, viu suas verdades testadas e cada pilar de sustentação de suas crenças caírem sem a menor cerimônia diante de seus olhos. O seu corpo nunca suportaria todas aquelas convicções...

Até que um belo dia ela percebeu que passara a vida sufocada por seus ideais. Ela tentara se encaixar como uma gueixa tenta encaixar o pé em um sapato de boneca, mas seu pé insistia em sair pelos fundos do calçado, causando grande desconforto e tensão. Mesmo quando ela se sentia a “mais liberta das libertas”, havia de outro lado uma tormenta profunda que não lhe largava.

Ela parecia feliz. E se sentia feliz muitas vezes. Mas quando a tristeza lhe batia a porta, aquela vivência lhe era tão forte que ela percebeu que precisava embarcar por outros mares; descobrir novas verdades. Não era feio ter um ideal, mas segui-lo a risca a aprisionava de tal forma que ela não sabia mais quem era ou o ponto de cisão entre ela e o outro. Alguns chamariam essa experiência de esquizofrenia. Eu prefiro chama-la de mudança. Uma mudança de casco talvez.

A mesma menina que antes desejava se formar, se estabelecer financeiramente, ter sua própria casa, e ter filhos (mas só depois dos trinta); aquela mesma que dizia que nunca abriria mão de seu trabalho para cuidar dos filhos, porque isso lhe parecia muito agressivo e ela pensava que teria que submeter-se a um outro que lhe garantisse o sustento (e isso era impensável, ora!). Aquela que não sabia se casaria... afinal, será que havia maior falta de liberdade que casando?!

Essa mesma menina das certezas virou cacos pelo chão. Fragmentos que nunca voltarão ao mesmo estado de coisas.

Mas o que era mesmo liberdade?
Será que é esse tolo conceito de liberdade pelo qual se levantam bandeiras?
Será que é a certeza das coisas? Será que é se formar, se estabelecer economicamente, ter a sua própria casa e casar (se casar!) depois dos trinta? Será que liberdade é ter filhos e não cuidar deles para não submeter-se a um outro que a sustente?
Mas que liberdade é essa que nos aprisiona em um modelo do que é ser mulher, do que é ser mãe, do que é ser profissional?

Hoje a menina ainda quer liberdade. Mas agora é diferente.
Ela quer a liberdade de se formar sem saber do futuro, ela quer não-saber quando (e se vai) ter filhos...
Ela não quer seguir as convenções.
Ela quer se permitir mudar a ordem das coisas, fazer diferente. Mudar o seu mundo. Construir a sua própria liberdade dos cacos que restaram do que é liberdade para todo o mundo. Ela quer viver, mesmo que isso implique não ter segurança...

E ela pensa em se casar (sim, por incrível que pareça!)

Como que andarilhando pela vida...



Estava a divagar esses dias: O que é a vida? Será mesmo a estalagem que nos resta até que chegue a diligência do abismo (nota de Fernando Pessoa)? Nesse momento, uma profunda angústia me assola. Mas a angústia ainda me parece um dos principais fomentos da escrita. Isso talvez me acalme. Talvez não.
Mas hoje a luz do sol brigava vorazmente por uma fresta de céu entre as fartas nuvens que acinzentavam o dia. Horas são viagens e o tempo não tarda. Enclausuramo-nos no tempo; será? Tanta coisa passa pelo nosso corpo e a gente nem sente...
Entre os grãos de areia que pressionavam as minhas pernas, pedindo a passagem a eles negada, um grito de felicidade, um castelinho de areia e um laço de fita, pensei: "Será que já parei para pensar quanta vida há nisso tudo?!"
Minhas mãos tocavam a areia como que em ato de reverência, o mar subia e chegava a meus pés; lá vinha o cheiro de chuva. Já dizia a previsão que o tempo ia mudar. Talvez eu tenha cismado de ir à praia para contrariar a previsão. Talvez para sentir o gosto de chuva e o frio incômodo do vento que sentenciava o veredicto dos "especialistas do tempo" na manhã, quando o sol tímido ainda ousava aparecer.
Será que não somos um tanto tolos de olhar para trás e pensar no que deixamos de fazer, com tantas experiências novas nos sacundindo para a vida de hoje? De contarmos quantos vínculos deixamos pelo caminho, quando tantos outros estão a ser feitos no agora?
Se viver não é isso eu ainda não sei o que é...