domingo, 5 de setembro de 2010

Era uma vez uma menina que queria liberdade...

Ela escolheu para si o desejo de liberdade não por falta de opção, mas porque a desejava muito naquele momento. Alguns murmurariam que a sua educação foi muito repressora; outros diriam que seus encontros a levaram a querer voar com as próprias asas. Mas isso talvez seja o que menos venha ao caso...

Suas pretensas escolhas eram em favor da liberdade que julgava ter criado para si própria. Seu mundinho, sua redoma. Vã ilusão. Tentava manter a todo custo os vínculos já estabelecidos; procurava insaciavelmente estereótipos que a identificassem, pois ali estava a sua segurança; era a partir desses referenciais que ela tinha a certeza do que era e do que queria.

Engraçado como o destino prega peças. E a menina, outrora tão convicta de sua realidade, na experiência, viu suas verdades testadas e cada pilar de sustentação de suas crenças caírem sem a menor cerimônia diante de seus olhos. O seu corpo nunca suportaria todas aquelas convicções...

Até que um belo dia ela percebeu que passara a vida sufocada por seus ideais. Ela tentara se encaixar como uma gueixa tenta encaixar o pé em um sapato de boneca, mas seu pé insistia em sair pelos fundos do calçado, causando grande desconforto e tensão. Mesmo quando ela se sentia a “mais liberta das libertas”, havia de outro lado uma tormenta profunda que não lhe largava.

Ela parecia feliz. E se sentia feliz muitas vezes. Mas quando a tristeza lhe batia a porta, aquela vivência lhe era tão forte que ela percebeu que precisava embarcar por outros mares; descobrir novas verdades. Não era feio ter um ideal, mas segui-lo a risca a aprisionava de tal forma que ela não sabia mais quem era ou o ponto de cisão entre ela e o outro. Alguns chamariam essa experiência de esquizofrenia. Eu prefiro chama-la de mudança. Uma mudança de casco talvez.

A mesma menina que antes desejava se formar, se estabelecer financeiramente, ter sua própria casa, e ter filhos (mas só depois dos trinta); aquela mesma que dizia que nunca abriria mão de seu trabalho para cuidar dos filhos, porque isso lhe parecia muito agressivo e ela pensava que teria que submeter-se a um outro que lhe garantisse o sustento (e isso era impensável, ora!). Aquela que não sabia se casaria... afinal, será que havia maior falta de liberdade que casando?!

Essa mesma menina das certezas virou cacos pelo chão. Fragmentos que nunca voltarão ao mesmo estado de coisas.

Mas o que era mesmo liberdade?
Será que é esse tolo conceito de liberdade pelo qual se levantam bandeiras?
Será que é a certeza das coisas? Será que é se formar, se estabelecer economicamente, ter a sua própria casa e casar (se casar!) depois dos trinta? Será que liberdade é ter filhos e não cuidar deles para não submeter-se a um outro que a sustente?
Mas que liberdade é essa que nos aprisiona em um modelo do que é ser mulher, do que é ser mãe, do que é ser profissional?

Hoje a menina ainda quer liberdade. Mas agora é diferente.
Ela quer a liberdade de se formar sem saber do futuro, ela quer não-saber quando (e se vai) ter filhos...
Ela não quer seguir as convenções.
Ela quer se permitir mudar a ordem das coisas, fazer diferente. Mudar o seu mundo. Construir a sua própria liberdade dos cacos que restaram do que é liberdade para todo o mundo. Ela quer viver, mesmo que isso implique não ter segurança...

E ela pensa em se casar (sim, por incrível que pareça!)

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