Que não sei segurar o guarda-chuva quando venta; que gosto de ganhar chocolates de presente e cartõezinhos ou qualquer besteirinha pra acompanhar; que eu sou muito desajeitada e tropeço milhões de vezes na rua porque ando com o pé arrastando; que quando estou de tpm vou sempre chorar e achar que ninguém me quer e, Vixe! Nem adianta discutir!; que passar protetor solar na tatuagem é um cuidado necessário; que inteligência me atrai muito; que fatalmente vou passar a roleta, pagar a minha passagem e ir pro último banco do ônibus, mesmo que meu namorado esteja sem dinheiro; que às vezes eu sou desatenta em excesso, e não perceber quando alguém corta o cabelo pode magoar...
Que quando não tiver o porquê discutir, acharei algum motivo irrisório, idiota o bastante para suscitar uma discussão filosófica ou existencial: “por que ser saudável?”; “choque de ordem é um fascismo!” e eu vou brigar sempre, porque eu gosto de brigar, oras! Que é muito bom não fazer nada quando se está bem acompanhado; que a gente tem que abrir mão de estar certo muitas vezes, mesmo quando as nossas verdades nos fazem pensar de outra maneira. Que mpb, música eletrônica e heavy metal podem ser ritmos agradáveis, basta saber ouvi-los; que eu sempre serei um desastre em escalada; que não saber dançar é apenas um ínfimo detalhe, e que pode ser até bonitinho quando se tem outras milhões de qualidades.
Que alguns paradigmas nossos estão tão cristalizados que não resistem a um peteleco, e que não necessariamente precisamos estar prontos para o momento da desordem, se conseguimos aceita-la e conviver com ela cotidianamente; que o maior dos crápulas da sua vida amorosa pode virar um de seus melhores amigos alguns anos depois; que uma mensagem pode transformar completamente a vida de alguém. Que certas situações são tão traumáticas que você pode passar a noite inteira em claro verificando se o outro está respirando mesmo. Que a “agradabilidade” de uma pessoa é diretamente proporcional à quantidade de risos que vocês cultivam juntos; e que às vezes eu sou impaciente e grosseira.
Que dá até pra achar engraçadas as manias do outro e pra conviver e caçoar delas de vez em quando; que dá pra se brigar porque um quer atravessar na faixa de pedestres e o outro no meio da rua e isso virar uma DR; que quando eu estou angustiada com alguma coisa eu preciso falar e falar e falar, pois só assim consigo entender o que estou sentindo, me organizar e dar um outro destino para o meu desespero; e que se o outro insistir em uma resposta imediata eu vou dar qualquer resposta (geralmente uma mal criada) só porque não gosto de não saber. Que se pode voltar a usar óculos (e a gostar deles) porque a pessoa que te ama diz que você fica mais bonita assim; que ver o filme “Godfather” (Don Corleone) trezentas vezes e estar exausta de decorar as falas pode ser uma forma de valorizar o que o outro tem a trazer da cultura familiar dele...
Que os costumes de seus antecessores podem estar adormecidos, esperando apenas a sua iniciativa para voltar à tona com tantas histórias a serem recontadas; que algumas pessoas te fazem se reaproximar de membros da sua família que você nunca imaginava amar tanto; que é muito lindo adotar a família do outro, ter uma pessoa pra chamar de vovó, outra pra jogar vídeo game ou pra arrumar como uma mocinha; outra pra te convidar para um almoço engraçado; e é muito gostoso ter uma criança correndo pela casa gritando: “Tia Marcelle, tava moorrrrendo de saudades!!!” e responder: “Eu também, meu amor.”
Que não se tem como quantificar a dor da perda, as lágrimas corridas, os segredos que deixaram de ser contados ou a vontade de recomeço, após o término de uma relação; ela dói tanto para quem terminou como para o outro (e talvez sinta mais a perda quem tomou a iniciativa de terminar); que parar o carro em frente à casa da pessoa e chorar olhando pra varanda não traz, e talvez nem seja mesmo pra trazer, a pessoa de volta. Que liberdade é um conceito muito relativo e que ela pode sim estar estreitamente ligada a querer a companhia de alguém até ficar velhinho, ter filhos, netos e a desejar fazer tai chi junto na pracinha, etc.
Que a gente aprende a abrir mão de nossos desejos, por compreender que a realização do desejo do outro no momento é mais importante; e que ser orgulhoso não te faz mais forte ou mais certo, às vezes temos que simplesmente engolir o orgulho e pedir perdão; que é preciso aprender a suportar pequenos e grandes defeitos; todas as pessoas têm defeitos, não importa o quão perfeita ela te pareça agora; que o medo de se envolver se trata muito mais de um sentimento presente que de algo que ainda esteja por vir, e tem pessoas com as quais se precisa dar tempo ao tempo, cultivar a paciência e viver cada dia um novo dia, sem se desesperar ou antecipar o que pode vir pela frente.
Que a expectativa é uma das coisas que mais frustra: ninguém nunca vai te amar como você gostaria de ser amado e você mesmo nunca vai se expressar para o outro da forma que você pensa que se expressa...; que tem momentos em que você vai querer matar o outro por ele ser e pensar tão diferente de você e outros que você vai odiá-lo por ele lhe ser tão semelhante. Que um namorado vem com um pacote, de vivências, histórias e que não dá para querer se livrar do passado, ele sempre estará ali. Que mentiras são tentativas de se fugir da dura realidade. Que pessoas de libra são muito agradáveis de se conviver; que relacionar-se com alguém faz de você uma pessoa mais tolerante.
Que é muito duro cruzar com uma pessoa com quem se viveu três anos e ela fingir que não te viu; que não é o fato do outro deixar claro que você não é a pessoa mais importante da vida dele que o faz te amar menos; que eu geralmente preciso de um tempo sozinha, totalmente sozinha, ‘eu e minha fogueira’; que cada pessoa é única e deixa marcas irreversíveis em nossa história, mesmo que ela fique só por uma noite. E que bom que são irreversíveis...
E eu continuo a sofrer, a chorar e a lamentar muito...
Mas olho para tudo isso e me vem uma alegria do tamanho do mundo de saber que pessoas tão especiais fizeram e ainda fazem parte de minha trajetória, parte de mim; e que estarão comigo para sempre mesmo que não queiram ou que desejem que eu as ame menos.