sábado, 9 de outubro de 2010

Autobiografia

Não gostaria de ser assim
Você acha que eu gosto de superficialidade?
Talvez isso seja uma couraça que a vida faz da gente.
E que aprisiona no modelo de felicidade e de pessoa bem resolvida.
Você acha que eu gosto de precisar tanto de reconhecimento?
Você acha que eu não tento me livrar disso todos os dias?
Do excesso de risos e das piadas que denunciam o meu pedido desesperado.
Quando na verdade choro debaixo dos cobertores sozinha.
E estou à flor da pele, tentando esconder até o último pedaço de pele nas minhas expectativas.
Desabar talvez não faça parte desse mundinho que criei pra mim.
Ainda que eu desabe todos os dias.
De que adianta ser bonita, inteligente, interessante,
Se tudo isso está aí para o outro?
Será que a beleza não traz sofrimento?
Será que uma pessoa não pode ter uma história difícil que a faça escolher pela superficialidade? Pela quantidade de amigos que tem? Pelos amores que conquista? Por ser a melhor profissional da área que escolheu?
Ainda estou ensaiando, aos poucos...
Como é ficar sozinha, como é ter poucos amigos, como é escolher por alguém que, de fato, se ame, por não agarrar o mundo com os pés e as mãos. Que o mundo é grande demais e que é impossível alcançá-lo, que é possível sim desabar e mostrar minhas fraquezas. Escolher mais por desafios que por certezas, suportar a imprevisibilidade da vida.
Meu corpo ainda não suporta lidar comigo mesma, não agora.
Espero que daqui a algum tempo eu possa experimentar ser mais sincera com os meus atos. Por enquanto ainda estou ensaiando ou, pelo menos prefiro acreditar que se trata apenas de um ensaio.

2 comentários:

  1. Impossível dignificar palavras tão profundas com um comentário.
    Quem te conhece realmente, compreende, aceita, releva, ajuda e acompanha.

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  2. Lembrei-me da consciência da produção da identidade e a crise que pode gerar a idéia de que toda identidade é artificial. Adorei a postagem. Bjos

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